quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Rico's misery

Fazia uns 4 dias que eu não tinha uma refeição decente. Conferi meus bolsos. Tinha só alguns trocados, o suficiente pra comer um salgado e tomar um refresco. Deus... aquele sol estava me matando. Remanguei meu paletó, afrouxei a gravata e me sentei ao balcão do bar.

- Deixa eu adivinhar. Pastel e...
- Um refresco dessa vez.
- E os cigarros?
- Parei de fumar - mentira.
- Você quer que eu quebre, rapaz?
- Me vê um avulso então, porra.
- Você não tinha pará...
- Escuta aqui seu gordo, se você não vai me dar essa merda agora eu não vou querer mais.

Prontamente sacou um cigarro de uma caixa e me alcançou.

- Fogo? - neguei com a cabeça e guardei o cigarro num bolso.
- Melhor saber que eu não vou pagar hoje. E me traz logo esse maldito salgado.

Eu não ia conseguir viver daquele jeito muito tempo. Os dias estavam sendo ruins pra mim, tempo de vacas magras. Eu mataria por um velho doze anos escocês, mas não tinha dinheiro nem pra comprar uma merda dum maço de cigarros. O gordo chegou com o pastel e com o refresco. Dei uma mordida voraz, mandei metade do salgado pra dentro numa bocada só.

- Algum esquema?
- Estou fodendo sua mãe.
- Eu vou te cobrar esse almoço.
- Ok, não é sua mãe... É sua irmã.
- Suas piadas continuam uma merda.
- Eu não recebo nada por elas.
- Qual o esquema?
- Vai te foder. Você sabe que eu tô quebrado.

Terminei de comer e empurrei o prato em direção ao gordo. "Vou nessa, fofo", falei. Ele me mostrou o dedo do meio e gritou alguma coisa do balcão. Tarde demais, eu já estava com um pé na rua. Senti que aquele ia ser o dia.